quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

As chavetas de Arronches



Em quatro anos de Mercearia nunca um objecto tinha gerado tanta conversa e tanto comentário.
Eu entendo, de facto não é óbvio, é preciso conhecer a realidade do mundo rural para perceber.
Quando um cliente olhava e mexia, logo a seguir perguntava:
- Para que serve?
E se eu não respondia imediatamente levantavam-se várias hipóteses. Aqui ficam algumas:

- É para marca o leite creme?
- É para segurar as portas?
- É para servir de “rolha” de garrafa?
- É para marcar massas?

Mas não, nada disso. O nome varia consoante a terra: chavetas ou cáguedas são duas das designações (ambas do Alto Alentejo) . Mas afinal o que são?

Pois bem: Arte pastoril. Arte do pastor, madeira esculpida com a navalha…para prender os chocalhos dos animais no campo (cabras, ovelhas ou vacas).
Os floreados são a marca do autor ou ainda a forma de diferenciar os animais.

Encontrei-as este Verão na Feira de Artesanato de Arronches. O artesão, um senhor bem velhote, fazia-as para ocupar o tempo. Lindas, perfeitas, de uma harmonia arabesca mas no fundo, tão simples.
Comprei vários carretos por atacado. Sabia que não ia encontrar este senhor muitas mais vezes. Percebi pela sua idade e disposição, que não era uma arte com continuidade, e talvez por isso mesmo, para mim, ainda mais preciosa.

Apesar da estranheza, a verdade é que venderam bem. Não são realmente úteis para nada (quer dizer, eu também não experimentei marcar o leite creme com elas, confesso). Mas fazem parte de um universo em extinção, de práticas ultrapassadas.

Porque na Mercearia já só restava um exemplar, na semana passada o Nuno disse-me: Vou falar com o meu colega de Arronches, ele pode conhecer o tal velhote das chavetas.
E bem dito bem feito, sendo o mundo uma aldeia, a verdade é que conhecia mesmo. Trouxe-me esta manhã dois carretos. As últimas doze unidades.
O senhor, pela idade, já não consegue ver bem e por isso tornou-se incapaz de as “esculpir”.
Peças simples, curiosas, até enigmáticas. Mas que afinal, são peças de sempre.
Ainda mais preciosas, ainda mais especiais, porque são mesmo as últimas.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O ponteiro dos minutos

Ralharam comigo porque tinha a porta fechada. Tinha ido lá a cima à Estalagem trocar a roupa nas máquinas e demorei-me mais da conta, afinal eles tinham vindo desde o Vale de Ródão até Marvão, só para vir à Mercearia.
Queriam uma pilha para o relógio da mesa de cabeceira. 
Só posso vender as quatro, disse eu, que o pacote é assim.
- Oh homem, tira lá a navalha que mesmo agora experimentamos.
O relógio era antigo, não tinha ponteiro dos segundos, pelo que mudada a pilha, nada aconteceu.
- Agora temos que esperar, que passem os minutos, e assim se comprova, que já está bom a dar as horas.
Esperámos os minutos que o relógio quis dar, perguntaram-me se o meu marido já tinha chegado a sargento, e pelo meu cunhado de quem são muito amigos.
Esperámos e conversámos porque o tempo é nosso, o tempo somos nós que o fazemos e aqui temos tempo.
E entretanto o relógio avançou.
Adeus e obrigada, até outro dia.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A balança da pequena merceeira e os clientes judeus


Quando entraram eu estranhei. Andava atarefada, para trás e para diante, ainda a arrumar a loja, depois do fim de semana agitado da Feira.
Fiquei surpreendida porque vestiam os dois roupa escura, chapéu característico, corte de cabelo característico, e barba. Falavam uma língua indecifrável misturada com um simpático inglês e ainda italiano.
Eram judeus e eu não os devia estranhar, porque esta é uma região de tradição judaica, como atestam as tradições e a sinagoga da vila de Castelo de Vide, as cabeceiras de túmulo do Museu de Marvão ou as ombreiras das portas de Alpalhão.
Mas estranhei porque não é habitual, assim tão visivelmente a rigor, confesso.
Compraram um Guia de Marvão. Depois, ainda, um saco de avelãs. Ao darem a volta à loja, foram encontrar a balança de brincar que eu tenho guardada numa prateleira, para quando a pequena merceeeira me vem "ajudar", nas tardes do fim de semana.
- Is it for sale?
- No, I'm sorry, it's my daughters toy, When she comes to help me here in the store.
- How old is your daugther?
- I have a girl with 8, a boy with 4 and another boy with 2.
Sorriu e disse:
- You must be happy
E foram-se embora, depois do cumprimento de despedida
E a verdade é que sou. Por isso, e por tanto mais.

sábado, 5 de setembro de 2015

Um Castelo concessionado e uma Câmara Municipal que envergonha

No primeiro semestre de 2013 a Câmara Municipal de Marvão concessionou o seu maior monumento, o seu ex-libris, o Castelo.
Sobre esse processo e a minha opinião sobre o assunto escrevi assim.
Dois anos volvidos, fruto de um trabalho associativo voluntário, a direcção do Centro Cultural de Marvão, concessionária do espaço, vê o seu trabalho reconhecido pelo Município da forma mais baixa, vergonhosa e inqualificável. O que foi escrito na declaração de voto pelo executivo no poder sobre este assunto custa a comentar.
Quanto um executivo camarário trata assim o trabalho associativo e voluntário que é realizado em prol de todos, no monumento que mais nos identifica, nada mais há a dizer.
A política, o poder, os valores que o poder corrompe.
Momentos assim, fazem-me sinceramente perder a esperança nas pessoas e no futuro...



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

FIMMarvão 2015


Acabou e já tenho saudades. O 2º Festival Internacional de Música de Marvão decorreu ao longo de duas semanas. Mais de 40 espectáculos, exposições, palestras. Muitos visitantes, muito público, sempre.
Um sucesso. Daqueles bem grandes, a provar a todos, que mesmo se tratando de uma terra do interior português, quando as iniciativas têm qualidade, o público aparece.
Cultura, elevação e magia num cenário de sonho. O sonho do nosso maestro.
Agradecer será sempre pouco. A TODOS que estiveram envolvidos, expressos no cansaço notório do Humberto e do Pedro . A TODOS os que estiveram envolvidos, expressos no sorriso sempre constante do Maestro Poppen e da fantástica Julianne.
De notar que à semelhança do ano passado, o Maestro fez questão de convidar toda a população da vila para assistir gratuitamente ao concerto de despedida. Como aqui todos nos conhecemos, fiquei feliz ao verificar que imensa gente aderiu e esteve presente.
Podia colocar aqui uma foto do concerto de ontem, o concerto da despedida, com mais uma vez casa cheia e ainda um sem número de gente espalhada pelas muralhas do 2º pátio do Castelo.
Mozart a dizer: Adeus, até para o ano!
Mas não, escolho a foto que a Núria, fantástica voluntária me mandou para o meu mural.
A minha filha, o meu sobrinho e o pôr do sol visto da muralha, para os lados de Castelo de Vide.
A minha filha marvanense que durante duas semanas ouviu Mozart, Mendelssohn, Strauss, Haydn, Schubert, Kodaly, Mahler, Beethoven, Viana da Mota.
Que a música clássica perdure dentro de todos nós, privilegiados por participar deste evento. Até à terceira edição, até ao próximo verão.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Bem visto

- Ai agora o papel higiénico é perfumado?
- Sim, esse é, mas há também do normal, quer que troque?
- Ai menina, não vale a pena, isso serve tudo para o mesmo...

(quando há vontade, todos nos entendemos :))

"Holla. I have a question: La posta, quando es abierta?"
(eu sorri, esta turista para fazer uma pergunta falou em três línguas. Eu respondi em português)
- Abre às duas

domingo, 26 de julho de 2015

A música regressou à Ammaia no segundo dia do Festival



Foi opção minha logo quando os bilhetes foram postos à venda e não me arrependi nada.
Troquei a gala inaugural do Festival de Música pelo primeiro dos concertos da Ammaia (Estágio Gulbenkian com a maestrina Joana Carneiro)
A presença do Aníbal, da Maria e da sua selecta gorilada (isto entre seguranças propriamente ditos e demais pápa croquetes) anunciados apenas um par de dias antes, só veio confirmar o que já tinha inicialmente previsto. As galas inaugurais são mais show off do que música propriamente dita. E sim, fiquei contente com o prestigio que a presença do Presidente da República significou para o evento, pena é tudo o resto que o acompanha.
Hoje, nem a má educação e a boçalidade dos chefinhos locais, que em vez de servirem de anfitriões chegaram atrasados,quando a música já soava, me entristeceu. Gente poucachinha não sabe que não se pode chegar tarde a concertos desta categoria, muito menos incomodar com movimentações quem já está sentado. Adiante…
Para além disso, eu conheço bem Marvão, sei que as noites no castelo, mesmo no Verão, são agrestes. Chega a uma hora em que os deuses sopram ventos frios que levam tudo pela frente.
Já na Aramenha, o verão é morno de dia e de noite, e eu lembro-me bem, de há uns anos atrás, que quando há música na Ammaia, as cigarras cantam em festa, as estrelas brilham serenas no céu, e Marvão fica lá ao longe, no alto, como um barco a bolinar.
Ammaia dos Romanos com música clássica. Casa cheia, bonita de gente e uma imensidão de jovens e talentosos músicos em palco. E ela, a maestrina (só o nome é bonito), franzina mas tão imensa, tão segura de si.
Ouviu-se Kodaly e Mahler. Eu só sei que os olhos se me encheram de lágrimas logo quando tudo começou e depois mais ao fim, quando a harpa acalmou tudo o resto, apaziguando a alma.
Na fila atrás da minha, o Maestro, a mulher e a filha também assistiam. Agora lembro-me da primeira vez que escrevi sobre ele, e como mais de dois anos depois, tudo cresceu de forma tão bonita, e hoje a música e a cultura enchem novamente Marvão
Ainda só estamos no segundo dia do Festival, e eu já me sinto tão feliz.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Lagar Museu Melara Picado Nunes - Galegos, Marvão



Foi este o lagar que visitei na passada quarta feira com os meus filhos. 
Já o conhecia. Num dia frio de Janeiro, há vários anos, fui lá fazer um trabalho com o avô do António, actual proprietário. O lagar estava a funcionar mas ao Sr. António já lhe faltavam as forças
- Vamos a ver se o meu neto quer depois pegar nisto
O neto António já perdeu o avô e a avó espanhola, que tinha uma loja de atoalhados/mercearia/venda de café mesmo em frente ao lagar. Duas pessoas importantes nesta comunidade de fronteira cujo legado, o António assumiu.
Nos dias que correm, mais importante de que montar um serviço, é também mostrar que se sabe fazer, que se produz algo. O Azeite Castelo de Marvão é o azeite que o António herdou e agora partilha com todos.
Uma excelente forma para quem nos visita, de conhecer uma das artes mais antigas do Alentejo, a dos lagareiros, e um dos nossos produtos mais nobres, o nosso ouro.
Um museu onde se trabalha, uma marca moderna
Vale a pena a visita, palavra de merceeira smile emoticon
http://mpn.pt/

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Feliz dia do Empresário de Marvão (ou quase, vá)



 Hoje comemora-se o Dia do Empresário de Marvão. O programa, a decorrer no Ninho de Empresas de Santo António das Areias é interessante e variado e tem muitas apresentações que eu tenho pena de perder.
Mas hoje é um dia de semana em que a maioria dos empresários está a fazer o quê? A trabalhar! E portanto, sendo uma micro empresária não posso simplesmente fechar a porta para ir comemorar este "meu" dia.
Colocar o meu entre parêntises não foi aleatório. Se de facto eu sou uma empresária de Marvão, desde 2011, a verdade é que dificilmente alguma vez me sentirei confortável neste contexto,isto enquanto o poder local lidar com os empresários (vá, não quero ser injusta, como o poder local lida comigo!!!) como tem sido até aqui.

É que comemorar uma data com um programa interessante é algo muito válido e necessário, mas naturalmente, mais importante do que isso, é ajudar os empresários naquilo que são as atribuições do poder local, dando-lhes as ferramentas necessárias para que os seus negócios prosperem, criem riqueza e emprego, sejam o reflexo da vida económica do concelho.
E é aqui, meus senhores, que tudo se complica.
Apoiar, incentivar, promover.
Não é favorecer, subsidiar, ignorar
Não, o necessário é mesmo apoiar, incentivar, promover.
E de preferência todos!

E é por isto mesmo que eu escolhi este dia para falar de um assunto, para mim, importante. Em 1 de Julho de 2013, um mês e meio depois de ter aberto a Estalagem de Marvão, enviei ao Sr Presidente da Câmara um pedido de inclusão da Estalagem na sinalética urbana da Vila.
Não sei quantos meses depois fui informada que "como o processo da sinalética se encontra encerrado,com a última revisão, foi decidido informalmente que todos os pedidos posteriores

à referida revisão terão de ser submetidos à aprovação da Câmara Municipal, como

o presente e depois das devidas autorizações as despesas da sua colocação serão da responsabilidade dos requerentes. Tratando-se  de  um  processo  dinâmico,  o  município  considera  que  deveria contribuir  com  a  base  do  processo,  sendo  a  sua  continuidade  ou  os  seus acréscimos da responsabilidade dos interessados em termos financeiro" 

Entendi e aceitei esta posição, se a revisão da sinalética urbana era um projecto encerrado * deveria ser eu, a interessada, a custear uma alteração. Isto porque a sinalética é algo dinâmico, com o tempo surgem novas necessidades e outras que se desactualizam.
Tendo aceite esta posição da Câmara, informei quem de direito e aguardei instruções. Porque o tempo foi passando, sugeri numerosas vezes placas provisórias que minorassem o meu prejuízo. As minhas sugestões nunca foram aceites, a conclusão desta comunicação tardou.

Eu acredito que seja difícil, para quem é funcionário público, compreender a pressa que um empresário tem em resolver "pequenas" questões como estas. O salário está lá ao fim do mês, para quem trabalha muito e para quem trabalha pouco. Está lá.
Para um empresário por conta própria não está. Não é fácil fazer um negócio resultar no nosso contexto territorial e num eterno cenário de crise. Não é mesmo.
É por isso que questões como estas, aparentemente simples, não deviam tardar, não deviam ser tão complicadas
Para que nos serve a proximidade se tudo é gerido em modo "quintinhas" de senhores feudais?

E com tudo isto, e até eu conseguir que a mesma empresa que instalou as placas o fizesse para mim (a expensas minhas, claro) passou quanto tempo? Quase dois anos.
As placas que referem e sinalizam a Estalagem de Marvão na vila foram instaladas este mês de Maio de 2015. Praticamente dois anos depois.

Isto é apoiar, incentivar, promover?
Não é, está mesmo muito longe disso.
O tempo que se perde, a burocracia, as indecisões é algo que não favorece a vida empresarial.
Se eu acho que estas situações se passam só comigo ou que são só deste concelho? Infelizmente não, de modo algum. Falam-me amigos e conhecidos de casos tão ou mais graves do que o meu.
Como se resolvem? Com paciência, com muita paciência por parte dos interessados. E com algum recalcamento e silêncio também, porque falar mal do poder local numa terra como esta é perigoso, é contraproducente, é um verdadeiro tiro no pé.
E será sempre assim ,enquanto se considerar o trabalho público como um favor que se presta a alguns.Não devia ser assim, o trabalho público é um trabalho bem remunerado, algo necessário e que se presta a TODA uma comunidade.

As placas que eu paguei já lá estão. Quando os meus clientes entram na vila ficam informados onde se devem dirigir. A factura que eu devia à empresa está saldada.
Dois anos depois. Para duas placas.
Dia do Empresário de Marvão? 
 Pode ser que daqui a uns anos sinta este dia como meu. Ou não.


* A Mercearia de Marvão, por ser um projecto temporalmente de execução anterior, foi contemplada na nova sinalética, muito pelo empenho do técnico municipal Nuno Lopes e a ajuda do colega empresário Jorge Rosado.

terça-feira, 21 de abril de 2015

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Os motards em Marvão

Juro que hesitei muito antes de escrever este texto
Quem tem uma página com mais de 8000 likes e um negócio com porta aberta não pode simplesmente dizer tudo o que lhe vem à cabeça. Porque esta página/blog não é a minha pessoal, é a do meu meio de subsistência e por isso por vezes é preciso meter travão
Porque há sempre quem não goste, quem não concorde, quem generalize e faça extrapolações erradas
Mas caramba, se não é para desabafar e comunicar, afinal estes meios servirão para quê?

Aquilo que eu quero falar são os motards. Pessoas que que têm esse hobbie, gostam de passear, e muitas vezes visitam Marvão em grupo. Quase todas as semanas. Portugueses e espanhóis.
Eu sempre conheci os motards como pessoas cumpridoras das regras de trânsito. Que gostam de se divertir, sim, mas cumpridoras, correctas, que dão o exemplo. Em todo o lado.

Mas então, porque é que em Marvão, não????
Porque é que (ainda este ultimo fim de semana) passaram, em grupo, três sinais de proibição ignorando completamente todos eles, só com o objectivo de subir a rua principal que chega ao castelo?
É que senhores motards, essa rua, a Rua do Castelo, só se desce...
Conquistem lá a fortaleza com os vossos motores ruidosos e os vossos casacos de cabedal!
Mas façam-na pela rua certa! Contornando a muralha desde que entram às Portas de Ródão!

É que este problema, acontece fim de semana sim, fim de semana sim...constantemente, repetidamente...
E é errado, é perigoso, não pode ser.
Porque Marvão tem muita gente que circula a pé, tem um trânsito muito complicado dadas as características da vila.

Dá-se o acaso de no mesmo momento em que eu começava a escrever este texto, entrou na loja um meu antigo colega, ligado ao grupo motard local. E comentei com ele este facto.
E ele disse e bem...se eles nos contactassem previamente, nós acompanharíamos a visita e evitávamos essas situações (que ele confirmou acontecerem demasiadas vezes).
E vai daí dizem-me os mais críticos, e a GNR, onde anda?
E eu respondo, em patrulha na vila, muitas vezes, mas não permanentemente. Porque o concelho é grande e o posto fica fora de muralhas, E muitas vezes, os motards chegam, tiram uma foto no castelo e seguem viagem de forma rápida...
Por isso senhores motards, venham sempre que queiram, gostamos muito de vos ter cá, mas à entrada da vila, lembrem-se de abrandar...e de reparar nos sinais!




sábado, 18 de abril de 2015

Um dos nossos

A passagem de uma ambulância dos Bombeiros de Castelo de Vide causa sobressalto, na manhã de sábado, à hora em que as senhoras vêem buscar o pão.
Quem seria, quem não seria.
- É problema cardíaco, diz a Dona. I, porque a ambulância vai devagarinho
Quem seria, quem não seria.
Pensa-se nos marvanenses que têm estado adoentados e levanta-me as hipóteses mais lógicas
Esclarece a G. que passeara o cão àquela hora, que tinha sido um cliente da pousada, daí ter feito a volta da rua 24 de Janeiro, mais complicada em termos de trânsito para carros grandes.
Comenta a Dona F. pouco depois aqui na Mercearia
- Não desejando mal algum, ainda bem que não foi um dos nossos, que somos tão poucos...
E ainda assim, não querendo sofrimento alheio, a comunidade, respira de alívio.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Festival do Chocolate em Óbidos: mas que grande miséria


Gosto muito de ir a Óbidos. É uma terra com que simpatizo
Imensas vezes comparam Marvão a Óbidos e isso poderia ter gerado antipatia, mas não é o caso. Talvez se deva a uma certa solidariedade de quem compreende o que é viver numa terra especial. Uma terra onde há pouco estacionamento, onde a DGPC e a Câmara regulam tudo e mais alguma coisa, onde sentimos que vivemos dentro de um museu.
E Óbidos tem de facto semelhanças com Marvão e vice versa. É o casario dentro de muralhas, é o castelo imponente, é a ausência de asneiras arquitéctónicas e a falta de habitantes permanentes,
 Mas também tem inúmeras diferenças.
Marvão tem a imponência do rochedo, a altitude, o clima agreste, a tranquilidade,
Óbidos tem a suavidade das flores por todo o lado, tem a situação geográfica e a auto estrada mesmo à porta, e tem muito mais vida.
Ontem estivemos em Óbidos em família, no dia em que começou mais um Festival do Chocolate.
O burburinho na rua Direita era tal que comentei com o marido: Isto mais parece um centro comercial medieval.
E é mesmo isso: Uma rua ocupada com lojas porta sim porta sim. Umas feitas com muita qualidade, outras nem por isso. Uma marca bem definida com produtos chave (ginja, chocolate) É o que Óbidos tem e Marvão também devia ter.

Quando há uns anos ouvi o então Presidente da Câmara Telmo Faria fiquei com inveja porque ele veio cá falar nisso mesmo: A construção da marca, do nome, dos eventos, Alguém que sabia o que queria e conseguiu concretizar. Porque Óbidos vende, e vende muito. E isso requer visão, estratégia, investimento.

Estivemos num exemplo fantástico de bom comércio tradicional: A livraria de Santiago (sim, numa Igreja) e no Alfarrabista/Mercado Biológico do antigo Refeitório da Câmara. Dois espaços que ajudaram na conquista de mais um título para Óbidos. O de vila Literário. Fantástico mesmo!
E outros há, de pastelaria, lojas gourmet e artesanato.
A restauranção...bem, posso ter tido azar das vezes que já estive, mas a sensação que tenho é que é muito básica em termos de qualidade, e extremamente cara.

Mas agora o Festival do Chocolate...perdoem-me os mais sensíveis...mas que grande miséria!
Uma boa organização, calejada com anos e anos de multidões, mas com um conteúdo, do mais pobre que já vi.
Um bilhete caro e pouquíssimos pontos de interesse relacionados com o tema. Aliás, como era o primeiro dia ainda haviam espaços por abrir (tão, tão à portuguesa...). Não se pode cobrar quando não se tem para oferecer...
Uma animação de rua quase inexistente, um castelo vazio (minto, com as estruturas da Feira Medieval/Vila Natal) e quando nos dirigimos ao único espaço próprio para crianças...adivinhem...pedem-nos ainda mais dinheiro!
Por isso minha gente, o meu conselho é que não vão. Não vale a pena, o evento não merece a visita.
As crianças vão com a ideia do chocolate e ficam desiludidas...
Eu acredito que em final de semana haja mais programação, mas em fim de semana também terão mais multidões. Portanto o saldo é sempre mau.
Vale muito a pena ir a Óbidos. Tem recantos de sonho e uma atmosfera única. Há muita coisa boa em Óbidos, muita mesmo. Mas o Festival do Chocolate é uma grande desilusão.

sábado, 28 de março de 2015

Passatempo a decorrer na página de Facebook da Mercearia de Marvão


III PASSATEMPO DA MERCEARIA/ESTALAGEM DE MARVÃO
1 - Gostar das páginas da Mercearia de Marvão (www.facebook.com/merceariamarvao) e da Estalagem de Marvão (www.facebook.com/estalagemdemarvao);
2 - Partilhar esta foto publicamente (é a única forma de verificarmos);
3 - Comentar este post marcando três amigos
O sorteio começa às 11.30h de dia 28 de Março e termina às 20h de dia 4 de Abril 2015.
PRÉMIO: Estadia de uma noite em quarto duplo, para duas pessoas, na Estalagem de Marvão, com pequeno almoço incluído e ainda a oferta de um produto da Mercearia como welcome gift.
A oferta deverá ser usufruída durante o mês de Maio ou Junho de 2015 em data a combinar, mediante disponibilidade. REGRAS: todas as regras devem ser cumpridas, nomeadamente partilha pública, marcar três amigos no post e gostar das duas páginas. Podem participar as vezes que entenderem. O vencedor será apurado pelo random.org e anunciado no dia 5 de Abril (tem até dia 15 para reivindicar o prémio)
Boa sorte a todos!
Os estalajadeiros estão disponíveis pelo 245993059 ou pelo geral@innmarvao.com

quinta-feira, 19 de março de 2015

Cenas da vida no campo

O nosso cão partiu um vaso à porta da D. Dinis.
Para devolver um vaso intacto ao proprietário, o meu marido foi ao Mercado Municipal de Portalegre, a uma loja de cerâmica, comprar um vaso novo.
Foi lá durante a manhã e quando chegou encontrou a porta fechada. Na porta estava um número de telefone para contacto.
(ao telefone)
- Precisava comprar um vaso, os senhores ainda voltam à loja?
- Ah, hoje já não. Mas diga-me, é desses que estão aí fora?
- Sim
- Ah, então leve o vaso, vá lá ao homem do talho e mostre-lhe, e depois pague-lhe a ele.
(e assim foi)

quinta-feira, 5 de março de 2015

O Festival de Música de Marvão 2015 (24 de Julho a 2 de Agosto)


Um programa que cresce em número de dias e em qualidade (e isso já era tão difícil).

Que mantém a Orquestra da Gulbenkian, e nos traz ainda a maestrina Joana Carneiro ou o fadista Carlos do Carmo com a Orquestra Clássica do Sul ao cenário de sonho da Ammaia (que saudades dos concertos na Ammaia)
Nível! Tanto nível!
Que dá oportunidade aos novos talentos, que não se esquece das crianças, que integra colóquios sobre a história de Marvão e um jantar musical com o nosso chef mais famoso! Epá! Que mais podemos pedir! Parabéns Maestro Poppen e equipa! 

Ainda em Março que ainda é tão cedo! 

Mas parabéns! Sonhar em grande é isto!

Programa, bilhetes e outras informações aqui:

http://www.marvaomusic.com/pt-pt/

terça-feira, 3 de março de 2015

Coisas que eu repito muitas vezes por aqui:

- Please, can you help me choose a good wine
- Well, the question is: There is no bad wine in Alentejo ...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Todos somos um estagiário

Ela esteve ainda agora aqui na Mercearia a comprar dois sacos de maças. Educada e simpática, fez-me lembrar um episódio que se passou há vários meses atrás noutro contexto.
Eu estava a receber uma encomenda, a arrumar produtos e a marcar preços mas interrompi o que estava a fazer para enviar ao Presidente da Câmara Municipal de Marvão um email a contar este mesmo episódio.
Por mais que ainda doam determinadas situações (porque vão doer sempre, para sempre) há que reconhecer o profissionalismo, há que reconhecer e agradecer, quando é devido.
Porque eu sei, porque eu adivinho, o que lhe vão fazer quando o estágio acabar (não sei se é estágio nem interessa, é seguramente uma situação precária de emprego).
Porque eu sei, porque eu adivinho, o que lhe vai custar abandonar o espaço onde cresceu profissionalmente, as promessas não cumpridas, as palmadinhas nas costas, o cinismo. 
Por isso o email seguiu. Porque ela merece.
 


Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Marvão

Embora estes factos reportem já ao ano transacto, não quis deixar de registar o meu apreço pela acção de uma funcionária da Câmara Velha - Casa da Cultura de Marvão.
Comunico-lhe então que acompanhei há vários meses atrás um grupo na sua visita à Vila de Marvão. Estava previsto, no âmbito deste passeio, a visita à Câmara Velha para visionamento do dvd promocional Marvão - Fortaleza Aberta.
O horário da visita, que decorreu em fim-de-semana, foi comunicado e acordado com a funcionária em questão. No entanto, como normalmente acontece com grupos grandes, houve um atraso que punha em causa esta iniciativa. Pela proximidade, dirigi-me à Casa da Cultura para desmarcar a visita, uma vez que ultrapassaria seguramente o horário de funcionamento do espaço.
Prontificou-se a funcionária em questão a aguardar o grupo, proporcionando assim que a visita se mantivesse como previsto.
O grupo chegou então e a visita decorreu dentro da normalidade, tendo sido expressos no final vários agradecimentos face ao modo como foram recebidos na vila.
Porque estes agradecimentos do grupo reportam não só ao meu trabalho bem como ao trabalho desta funcionária, resolvi comunicar-lhe este episódio, agradecendo também o profissionalismo com que fomos recebidos pela Sofia Nunes
Assim saiba, também o Município, reconhecer o mérito destas pequenas acções.

Com os melhores cumprimentos

Catarina Machado
Inn Marvão

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Das coisas bonitas e positivas

Festival Andanças (Oficial), que veio dar uma nova vida à zona da Barragem da Póvoa e Meadas, mostra uma clara preocupação em adaptar-se aos costumes locais, construindo as suas primeiras "estruturas fixas" de forma semelhante às choças, tradicionais na região.
Claro que não são exactamente iguais (até porque o fim também é diferente, as choças eram maioritariamente para guardar animais e instrumentos agrícolas) mas o cuidado está lá, e isso é muito positivo registar smile emoticon
Go Andanças Go!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Ai Alentejo, Alentejo

Tanta coisa em comum: a falta de ligação à Internet de qualidade, a falta de rede de telemóvel, a falta de transportes públicos, o reduzido número de crianças em idade escolar...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Acknowledgments

A Mercearia estaria aberta há pouco tempo. Tenho ideia que sim
E por isso esta história começa há três anos atrás.
Veio ter aqui comigo.
Apresentou-se, disse que era investigadora, norte-americana, que estava a preparar uma tese sobre os conflitos na fronteira Hispano-Portuguesa. Que queria consultar os arquivos de Marvão, mas que ninguém a conseguia ajudar
(curioso, não é, mandarem os investigadores vir ter comigo à Mercearia)
Disse-lhe que tinha pena, mas que já não estava a realizar esse trabalho. Disse até, que me custava essa proximidade paredes meias, com o serviço que ajudei a montar e que me foi retirado.
Ficámos a conversar, contou-me a história dela, contei-lhe a minha.
E acabei por ir lá, pegar no inventário, ajuda-la, orientar o tipo de documentos que lhe poderiam ser úteis.
Trocámos contactos e nesse verão seguinte ainda voltou, com a família, para confirmar uma ou outra referência, para passear.
Ontem chegou no correio um pacote para mim. Pesado. Quando abri não reconheci.
Era o livro dela. O resultado da sua investigação. Fronteirs of Possession,
Da Professora Tamar Herzog que é "SÓ", professora na Universidade de Harvard...
Mandei-lhe um email. Agradeci-lhe o gesto.
Respondeu-me, "Catarina, o gesto foi seu"

Há momento que, não alterando a realidade das coisas, muito consolam...





ta há pouco tempo. Tenho essa ideia