terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma questão de educação...

Uma das áreas em que eu senti sempre com mais intensidade o preço a pagar pela interioridade foi a educação.
No presente ano assistimos a algo que parecia estar em retrocesso mas que agora volta a ser uma realidade banal: a junção de vários anos de escolaridade na mesma sala, com o mesmo professor.
Porque são os números que contam, não o processo educativo ou a aprendizagem das crianças. Juntam-se crianças para poupar nas turmas, por consequência nos salários a pagar aos professores.
Por todo o lado é assim, claro que nas terras onde as crianças vão escasseando cada vez mais o problema é muito mais agudo.

Hoje foi o dia de deixar a minha filha mais velha na "escolinha dos grandes" pela primeira vez.
Um dia feliz, um dia de conquista e mentalização que o tempo passa depressa e ela já é uma menina crescida, mas ainda assim, a minha menina, o meu primeiro bebé.
Ficou na escola que já conhecia, com uma professora que eu muito estimo. Parecia tudo perfeito, não é?
Longe disso.
No primeiro ciclo da escola da minha filha só há duas turmas. A que junta o primeiro e quarto ano e a que junta o segundo e terceiro ano. Assim mesmo. Se faz sentido? Obviamente que não. Alunos que entram na escola pela primeira vez juntos com alunos que no final do ano lectivo farão exames nacionais...mas lá está, as crianças não interessam aqui, interessam os números.
Um desafio imenso de desmultiplicação para a professore, uma profissional empenhada, que sei que é, mas não faz milagres ainda...Até porque aos professores hoje em dia já só falta exigirem isso mesmo, milagres...

O absurdo na escola sede do agrupamento ainda é maior. Com três turmas de primeiro ciclo  mas novamente pelos números, divide-se os poucos alunos do primeiro ano para os juntar ao 2ª e 3ª ano respectivamente...Economizando nas turmas, poupando dinheiro ao ministério...
E ficamos por aqui? Não mesmo!
Ontem apercebi-me de uma realidade ainda mais estranha, houve dois professores de primeiro ciclo que foram recolocados no agrupamento (não sei se é assim o termo), não tinham portanto turma destinada mas pertencem aqui.
Estes dois professores vinham então, pela lógica, resolver o problema na escola sede,completando a turma em falta e minorando a questão na outra escola. Mas não, o ministério não autorizou...pela questão dos números presumo, e então estes dois professores ficam noa grupamento, sem turma, a dar apoio às existentes...

A associação de pais batalhou e por isso está de consciência tranquila. Foi de Marvão a Évora reunir com  a Direcção Regional de Educação do Alentejo. Não entrou pela questão dos números que não valia a pena, tentou batalhar pelas areis movediças do apoio educativo a crianças com necessidades educativas especiais. Batalhou com as armas que tinha, veio derrotada, mas foi à luta.
Da autarquia não ouvi nada. Se tentou alguma coisa não me apercebi, sinceramente. Mas faz sentido, as eleições não se ganham nas escolas, longe disso, ganham-se no extremo oposto aliás, nas festas dos velhinhos que se adiantam para se distribuírem aos ditos uns beijinhos e umas pancadinhas nas costas.

Das crianças nada. Eterniza-se a questão da junção das duas escolas ,que eu particularmente defendo (pois antes uma escola boa e completa do que duas assim-assim) por puro populismo e bairrismo, não querendo desagradar ao lado norte da montanha concelhia, e não aproveitando as obras de melhoramento que poderiam daí vir. Até que a junção das escolas se dê por decisão superior, com obras ou sem elas, porque vai acontecer inevitavelmente, mas já havendo um culpado. Foi de cima, dirá o sr. Presidente da Câmara, a culpa não foi minha, que é uma posição que ele tanto gosta e tanto lhe convém.

E eu penso nesta pirâmide de responsabilidades onde insiro a autarquia, a direcção da escola, a direcção regional do Alentejo e o Ministério da Educação e pergunto-me se dormirão tranquilos de noite sabendo que estão longe de proporcionar às crianças de Marvão (e a tantas outras) as melhores condições de aprendizagem possível. Porque no meu íntimo, não consigo conceber que as crianças mereçam menos que o melhor.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A casa, que é deles



Hoje de manhã conversava com uns clientes simpáticos que estranhavam o facto de a nossa família ter tomado a opção de viver em Marvão, apesar das dificuldades, da desertificação , da falta de serviços e de emprego. Diziam-me que era arriscado, só por si mesmo, hoje em dia, pôr três filhos no mundo, quanto mais numa terra sem hospital, ou escola, ou farmácia todos os dias...
Expliquei-lhes que tinham razão mas que na balança para mim pesavam mais, muitas outras coisas. Umas palpáveis, outras nem por isso. Que qualidade de vida, para mim, rima com esta vila no topo de uma montanha.
Hoje que o N. regressou ao trabalho e me pesam nos ombros (e nas pernas) as dificuldades de gerir este edifício sozinha, pois as escadas são muitas e a barriga cada vez mais pesada...estas palavras soam baixinho, e penso nelas e no seu sentido.
Todos temos dúvidas, tantas e tantas vezes...
Mas reparei nesta foto que o N. tirou ontem antes da procissão passar. Esta casa que há dois anos era uma ruína e que se tornou num sonho. São dois anos e parece uma vida...
Reparo nestes meninos loiros de sorriso rasgado, sentados no degrau desta casa, desta loja. Crescem aqui, criam as suas memórias aqui. Esta casa é deles e fez-se assim bonita, por eles.
E sigo assim mesmo, com dúvidas, por vezes muito cansada, mas sempre cheia de esperança!