quinta-feira, 6 de junho de 2013

Crónicas da Vida na Aldeia – A má língua

Soube hoje de um episódio triste. Eu às vezes tenho para mim que na aldeia também sou um pouco outsider (e ainda bem) e por isso só venho a saber das coisas muito tarde. Enquanto ouvia a história, contada pela “personagem principal” não conseguia deixar de rir, porque no fundo é uma história insólita.

Os pormenores pertencem a quem de direito e o processo ainda está em curso pois envolve as autoridades, mas resumindo, não passa de um mau entendido! Uma daquelas histórias que parece de filme pelo caricato que significa e que confiando no bom senso de todos, se há-de com toda a certeza resolver.

Mas  ele há os episódios insólitos e os episódios insólitos que acontecem em contexto de aldeia. E isso, senhores, faz toda a diferença. Porque quando se escolhe viver numa aldeia escolhe-se viver em comunidade, com todo o mau e o bom que isso acarreta.

Por mais que uma pessoa tente viver para si, na aldeia, não se consegue. Por uma razão ou por outra, tarde ou cedo, acaba por ser vítima de boatos e falatórios. Ele é porque é de fora, porque se veste de forma diferente, porque os filhos levam sandálias para a escola enquanto os outros usam ténis, porque não vai à missa, porque sai cedo de casa ou entra tarde, porque deixa crescer ervas daninhas no quintal ou porque comeu demasiados doces no natal e engordou.

Agora imaginem: Uma cachopa nova que veio de fora com a família para iniciar um negócio novo! Que se veste de forma descontraída porque passa os dias metida numa obra e isso o exige. Imaginem que esta cachopa tem queda para se meter em “filmes” insólitos e por uma imprudência se vê “apanhada” pelos guardas enquanto come um gelado descansadamente com o filho ali para os lados da Portagem….isso……é um prato…é tudo o que as dondocas que frequentam as mesas do café precisam para começar o chorrilho de mentiras, mal discência e muita, muita mesquinhez. Carradinhas de mesquinhez.

É que eu tenho muito mais medo das más línguas da aldeia do que tenho dos senhores guardas. Muito mais! (até porque quanto aos guardas até casei com um). É que nas aldeias se concentram muitas pessoas que não entendem que o mundo é muito maior do que o morro de Marvão, que a vida é muito mais complexa do que contam o Goucha e a Cristina nas manhãs da TVI e que a forma como a vizinha estende a roupa no estendal, só por ser diferente da sua, não é assim tão grave.

É nesses momentos que cai em nós que há mesmo pessoas más, com mau fundo, com rancor no coração e principalmente na língua. Destas, só pena, muita pena, porque tarde ou cedo, sofrerão em dobro aquilo que fazem os outros.

O problema  é ter que enfrentar essas pessoas todos os dias nos cafés, na mercearia, ou quando se levam os filhos à escola. Porque é assim a vida na aldeia, vivida em comunidade. É ter que as encontrar nas festas  e ter que cumprimentar, ou quando as coisas já estão irremediavelmente azedas, ignorar, com a altivez de quem tem a verdade do seu lado.

É ser maior do que a mesquinhez das más línguas da aldeia. É difícil, tão difícil…

2 comentários:

  1. É continuar a nossa vida e assobiar para o lado! cabeça erguida! Porque lá porque nasceram na "Aldeia" não são mais que nós (o que vieram de fora e escolheram esta ou aquela terra para viver!)

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  2. Os juizos de valor e os "julgamentos" em praça pública assim como as sentenças, que na maioria das vezes, são de condenação, feitos por quem nada sabe, irritam-me profundamente.

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